sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

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Grupo de paleontólogos descobre que a explosão cambriana, que marca a origem de grande parte dos animais, foi precedida por outro evento de expansão da biodiversidade, há cerca de 575 milhões de anos (foto: B.Shen)

04/01/2008

Agência FAPESP – A maior parte dos principais grupos de animais complexos passou a ter registros fósseis durante a explosão do período Cambriano, quando, em um período relativamente breve (de cerca de 542 milhões a 520 milhões de anos atrás), houve um intenso aumento na biodiversidade do planeta.

Isso é o que se sabe. Agora, um novo estudo, feito por paleontólogos do Departamento de Geociências da Universidade do Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, identificou outra explosão evolucionária, com origem cerca de 33 milhões de anos antes da outra mais conhecida.

O evento teria ocorrido em formas de vida macroscópicas não relacionadas aos animais do Cambriano. Em artigo publicado na edição de 4 de janeiro da revista Science, os pesquisadores dão ao episódio o nome de explosão Avalon. A descoberta implicaria que mais de um intenso evento evolucionário tomou parte na origem dos animais.

“O padrão de explosão evolucionária era uma importante preocupação para Charles Darwin, pois, para ele, a evolução deveria acontecer em um ritmo lento e constante”, disse Shuhai Xiao, um dos autores do estudo. “A percepção de Darwin pode ser representada pela imagem de um cone invertido com um espectro morfológico que não para de expandir, mas os registros fósseis desde a explosão cambriana são mais bem representados por um cilindro.”

Segundo Chao, o novo modelo comporta mudanças de diversidade enquanto o espectro morfológico permanece constante, sendo compatível com a idéia de explosões evolucionárias.

Intrigado com o evento no Cambriano, Darwin ponderou que ele deveria ter sido precedido por longos e obscuros períodos de evolução, mas evidência dessa idéia não foi encontrada posteriormente, diferentemente do contrário, ou seja, das explosões. “Ritmos acelerados caracterizam a evolução inicial de muitos grupos de organismos”, disse Michal Kowalewski, outro dos autores.

O novo estudo foi feito com fósseis do período Ediacarano, os mais antigos registros de organismos complexos de que se tem notícia. Pertencem a estruturas multicelulares que viveram nos oceanos de 575 milhões a 542 milhões de anos.

“São organismos sem relação de descendência e distintos dos animais do Cambriano. A maioria foi extinta antes da explosão nesse período mais recente”, explicou Bing Shen, primeiro autor do estudo. “Nós identificamos 50 características e mapeamos a distribuição delas em mais de 200 espécies ediacarianas, que cobrem três fases evolucionárias em cerca de 33 milhões de anos de história do período.”

As três fases foram nomeadas Avalon, Mar Branco e Nama, a partir dos locais em que fósseis representativos dos períodos sucessivos foram encontrados. A surpresa foi descobrir que as mais antigas formas de vida do Ediacarano já ocupavam um completo espectro morfológico de planos corporais referentes a todo o período.

“Em outras palavras, os principais tipos de organismos ediacaranos surgiram na aurora do período, durante a explosão Avalon”, disse Lin Dong, outro autor do estudo. “Posteriormente, os organismos se diversificaram no período Mar Branco e declinaram no Nama. Mas, apesar das idas e vindas, o espectro morfológico dos organismos Avalon nunca excedeu o do momento inicial.”

O artigo The Avalon explosion: Evolution of Ediacara morphospace, de Bing Shen e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

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