sábado, 26 de abril de 2008

Política, Cota e Uma Idéia

José Amaral Neto*

Ocupa o lugar comum a discussão política em todas as cidades brasileiras em qualquer ambiente ou acompanhando o noticiário político. Claro cada qual com as suas particularidades e peculiaridades.

A consternação fica por conta do estreitamento de visão. Ou seja, uma vez no poder, a perpetuação se torna uma causa necessária. E isso compromete a evolução para uma consciência universal em favor da causa e da coisa pública.

Não existe este ou aquele grupo que não seja legitimado pelo voto. E é esse voto que tem comprometido as ações necessárias que garantam um crescimento gradativo e permanente rumo a uma melhor distribuição de renda e qualidade de vida - que possam contribuir para diminuir as injustiças sociais que são de dimensões continentais nesse país.

Parece que em ano de eleição todo mundo tem uma reclamação pra fazer. E todo e qualquer grupo se proclama o grande timoneiro para não deixar o barco ir à deriva.

Muitos insistem que eleitores vendem seus votos - mas se esquecem que pra todo corrompido, existem vários aliciadores. Esses mesmos corruptores só mudam de roupa e discurso.

Um grupo até então apto a discursar em tom vermelho, agora se diz meio sangue, meio soro - sem contar aqueles que se tingiram de azul. O poder é inebriante.

As parcerias estratégicas se tornaram fugazes, pois na pressa em se fazer julgamentos se esquecem de revisar suas experiências.

É preciso pensar a cidade - começar um movimento em favor de Uberlândia, onde tantas quantas pessoas se apresentarem como lideranças possam ser ouvidas. Uberlândia, como qualquer outra cidade brasileira precisa conhecer seus arautos e libertar seu oxigênio para que o processo político possa lhe garantir um progresso inteligente e continuo.

Nessa campanha eleitoral que teima em não começar falta inspiração, transpiração, coragem e lideranças que queiram compartilhar e discutir, propor e reinventar a maneira de governar. Os acordos precisam ter o aval de homens de palavra - que não loteiem a cidade. O povo não pode ser relegado a currais.

O que se avizinha é a repetição de quadros. O fato de novas lideranças buscarem espaço não determina a extinção dos que já ocupam o poder - É só trabalhar e mostrar serviço. Os antigos métodos de política rasteira estão de volta. São fichas de filiação política sumindo ou adquirindo dupla e insana orientação.

Um plano diretor foi feito e até o momento...

Servidores ligados ao que existe de mais atrasado em administração pública continuam a ditar as regras, sem observar o mundo indo em frente sem temor. O "ser profissional" e técnico ocupa os espaços em detrimento do aprendizado constante e da falta de um plano de metas que possa ser executado.

Ações isoladas são identificadas sem estarem interligadas de fato. É preciso Pensar Uberlândia.

A região do Triângulo é jovem e a propaganda deve ser direcionada para essa maioria - é assim que os fenômenos surgem - falam diretamente aos jovens.

Uma proposta é a de se buscar essa oportunidade de Pensar Uberlândia junto a uma entidade representativa conjuntamente com todos aqueles que amam essa cidade, tendo nesta oportunidade a chance de se revelarem seus parceiros com sugestões e atitudes que em equipe possam revitalizar o sabor de uma boa política nesse município. Seguindo o exemplo de outras cidades brasileiros que já tomaram essa iniciativa.

Numa cidade de quase setecentos mil habitantes é inadmissível que 04 ou 09 pessoas ditem o que é certo ou errado. A prática do feudalismo já passou. É impossível que aqui queira se repetir a angústia dos italianos que por nove meses ficaram sem governo e agora a frustração levou ao poder uma figura que legitima o salve-se quem puder.

Alguns países milenares do velho continente europeu passam por essa situação em graus diferentes é só acompanhar o noticiário. Entretanto, aos olhos do mundo vendem a "formula do sucesso". Que nada mais é: manda quem pode e obedece quem tem juízo - o povo, ora o povo..., é só massa de manobra. Cada vez mais sem acesso a saúde; sem condiçoes de obter um trabalho melhor remunerado. Sem uma moradia descente.

Afunilar a campanha entre 01 ou 03 é covardia. É o mesmo que dizer que cada voto tem um preço. É preciso falar de todos de uma maneira ampla - possibilitando um debate de idéias, a formulação de um plano real e aceitável de governo, ou mesmo a construção de um plano de metas através de encontros informais de como PENSAR UBERLÂNDIA presente e futuro. É preciso agir.

Nos bastidores da política uberlandense corre pela (que se convencionou chamar a opinião sem dono) rádio peão que a turma democrata vai se coligar, cedendo o cargo de vice na chapa majoritária ao tenente comandante dos herdeiros políticos de Leonel Brizola (que pode subir no telhado) levando a sobremesa para a festa com a turma chefiada pelo magnata dos rally´s; e de quebra um cafezinho com mais três ou quatro P´s.

De um outro lado se asseveram as manobras dentro do PMDB com o balão de ensaio vindo do Senado Federal pra cidade mineira do Triângulo. Mas, um pito de BH esfriou a refrega. Todos sonham com a estrela e o sol. Minutos são precisos para iludir. Idéias e compromissos nessas plagas são dispensáveis.

Assim surgem os fenômenos eleitorais, pois se existe um vácuo porque não ocupá-lo, haja vista a ausência de lideranças que tenham a coragem de se expor, opinar e caminhar ao lado do povo. Ser honesto é de berço. Isso não se compra, ainda...

Escolher pressupõe, quase sempre, orquestrar renúncias que comprometem acordos mal ajambrados. Aos amigos e companheiros de estrada batatas, e aos inimigos o que eles querem, e outros mimos.

Os movimentos sociais são mecanismos eficazes na identificação dos anseios da população. Mas quase sempre estão a margem, em grande parte entregues a pessoas quase sempre sem ideologia, sem um projeto verdadeiramente inclusivo – essas mesmas pessoas são incensadas a acreditar que podem fazer parte do grupo dominante e perdem a chance de solidificar a sua liderança. É bom salientar que apesar de conhecer milhares de cidadãos esse líder e agente social pode não ter o voto dessas pessoas, pois não consolidou sua linha de ação e nem transformou seus atos em conquistas políticas que pudessem apresentar aos seus possíveis eleitores que ele fosse capaz de ser um bom representante com mandato político.

Aperto de mão e sorriso largo, não são garantias de voto ou de legítima liderança.

No meio desse jogo se destaca o Movimento Negro galgando espaço e tentando construir uma ponte entre o passado ignorado pelas autoridades, o presente que é urgente em suas reivindicações e o futuro que precisa ser desenhado agora.

O MAIPO-Movimento de Articulação e Integração Popular é a linha mestra costurando a unidade das várias agremiações representantes dessa comunidade que clama por atenção. O cenário torna-se cruel porque a reparação nunca houve. Acesso a educação nunca teve e, das poucas conquistas, todas foram feitas com fórceps.

Nas novelas e filmes as menções sobre negro gravitam entre a mediocridade doméstica, a comédia ou a escravidão. Se a igualdade existe qual a dificuldade em se fazer projetar este ser de tez escura destaque como outra etnia qualquer.

Paga-se a quem ficou 01 dia, e as vezes apenas prestou depoimento nos anos de chumbo – Justo, muito justo. Mas ignora-se o estrago que 400 anos de cerceamento e marketing negativo relativo à cor possam ter colaborado para a exclusão do negro do universo social do bom emprego, da boa casa, da boa comida e quem sabe uma viagem nas férias. Mas principalmente da humilhação através do quesito "boa aparência".

Quando um taxista ou um portador de necessidades especiais adquiri um carro com acesso especifico a um financiamento diferenciado as pessoas não vêem como COTA.

Aos negros é negada a possibilidade de por um tempo determinado poder formar um geração que na seqüência produzirá cidadãos mais bem preparados e que não precise desse subterfúgio para ter acesso a universidade pública e gratuita. Todos dizem que é só estudar que dá – mas se esquecem que o que sobra é o resto do resto e, até os anos de 1950 escola para negros era algo impensado e quando se abriram as portas, a massa não tinha, e ainda não tem condições de ocupar esse espaço. É preciso colocar comida na mesa e a sobra é a escola noturna.

Não é justo ignorar essa situação. O momento político é oportuno para o debate, e principalmente para abrir palanque aos políticos que tem visão clara da necessidade de apoiar a Comunidade Negra na sua luta de garantir a legitimidade de suas reivindicações para que estas encontrem resultados práticos e crescentes. Políticos que se assumam representantes do povo e não de sua causa pessoal.


* jornalista - (34) 9197.2150

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