Na foto, a comunidade onde foi feito e estudo, em Salvador (BA): cada dólar por dia acrescentado à renda familiar de uma população carente diminui em 11% o risco de infecção por leptospirose
28/04/2008
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Melhorar a infra-estrutura sanitária não basta para controlar a leptospirose numa favela. É preciso também melhorar a condição socioeconômica dos moradores, cuja variação acompanha o risco de infecção.
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Melhorar a infra-estrutura sanitária não basta para controlar a leptospirose numa favela. É preciso também melhorar a condição socioeconômica dos moradores, cuja variação acompanha o risco de infecção.
Essa é a principal conclusão de um estudo realizado numa comunidade carente de Salvador por pesquisadores do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), um dos institutos da Fundação Oswaldo Cruz, na capital baiana. Os resultados foram publicados na revista de acesso aberto Plos Neglected Tropical Diseases.
Os pesquisadores entrevistaram mais de 3 mil moradores da comunidade de Pau da Lima, em Salvador, e utilizaram modelos matemáticos para avaliar a associação entre fatores ambientais, indicadores socioeconômicos e a presença de anticorpos contra Leptospira nessa população.
De acordo com o autor principal do trabalho, Albert Icksang Ko, professor de Medicina da Universidade de Cornell (Estados Unidos) e pesquisador visitante do Laboratório de Patologia e Biologia Molecular do CPqGM, o estudo mostrou que mais de 15% dos moradores já haviam sido infectados alguma vez pela doença.
“Além de identificar fatores de risco ambientais, como a falta de saneamento básico, o estudo mostrou que o nível de pobreza está fortemente ligado à prevalência da doença. Concluímos que o risco de infecção diminui em 11% a cada dólar a mais por dia acrescentado à renda familiar per capita”, disse Ko à Agência FAPESP.
O pesquisador explicou que, embora as deficiências na infra-estrutura sanitária tenham se mostrado uma fonte de transmissão de leptospirose, quando esses fatores ambientais foram controlados as diferenças socioeconômicas contribuíram para o risco de infecção.
“Identificamos fatores ambientais de risco, como morar perto do esgoto a céu aberto, em locais onde há lixo exposto e em fundos de vale com risco de alagamento. Mas, entre os moradores nessas condições, as diferenças socioeconômicas se apresentaram como um fator de risco independente”, afirmou.
De acordo com Ko, existem mais de 10 mil casos de leptospirose registrados no Brasil – a maioria deles em populações carentes dos grandes centros urbanos. O pesquisador afirma que mais de 25% da população brasileira mora em favelas. A proporção chega a 60% em Salvador.
“O problema é grave se pensarmos numa projeção epidemiológica. No mundo todo, temos 1 bilhão de moradores de favelas. Esse número deverá dobrar nos próximos 20 anos. Por isso é importante identificar com precisão os fatores de risco de infecção”, afirmou. Participação da comunidade
Segundo Ko, o estudo foi realizado com recursos do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz e do Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos, por meio da Universidade de Cornell.
O estudo se baseou num um inquérito realizado com 3.171 residentes da comunidade, utilizando anticorpos aglutinantes contra Leptospira como um marcador de infecção prévia. Os dados sobre condições ambientais foram obtidos pelo Sistema de Informação Geográfica (GIS).
O estudo se baseou num um inquérito realizado com 3.171 residentes da comunidade, utilizando anticorpos aglutinantes contra Leptospira como um marcador de infecção prévia. Os dados sobre condições ambientais foram obtidos pelo Sistema de Informação Geográfica (GIS).
“Utilizamos o modelo de regressão de Poisson para avaliar a associação entre a presença dos anticorpos e atributos ambientais, indicadores socioeconômicos e exposições de risco individuais.”
De acordo com o pesquisador, a participação de líderes comunitários e das associações de moradores foi imprescindível para a realização do trabalho. “A comunidade foi o sujeito da pesquisa e colaborou muito para a obtenção dos dados e realização das entrevistas. A partir daí, utilizando o GIS, uma equipe de geógrafos criou os mapas que identificaram o impacto de cada um dos fatores ambientais e socioeconômicos”, explicou.
De acordo com o pesquisador, a participação de líderes comunitários e das associações de moradores foi imprescindível para a realização do trabalho. “A comunidade foi o sujeito da pesquisa e colaborou muito para a obtenção dos dados e realização das entrevistas. A partir daí, utilizando o GIS, uma equipe de geógrafos criou os mapas que identificaram o impacto de cada um dos fatores ambientais e socioeconômicos”, explicou.
O estudo, de acordo com o pesquisador, contribui para incentivar o poder público a tomar medidas que possam diminuir os casos de infecção por Leptospira. “A leptospirose é uma doença de alto impacto econômico para o sistema público de saúde. Ela é associada a uma falência renal aguda, matando mais de 15% dos infectados que são hospitalizados”, disse.
O artigo Impact of environment and social gradient on Leptospira infection in urban slums, de Albert I. Ko e outros, pode ser lido em http://www.plosntds.org/article/info:doi/10.1371/journal.pntd.0000228;jsessionid=446062529089F44937B26BCC90DC0869.
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