quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Igreja e as invasões de propriedades

Prof. Felipe Aquino*
Temos visto crescer no país os movimentos de invasões de terras, prédios habitacionais, de empresas públicas e particulares, por parte dos “movimentos sociais”. Ao que parece, contam com uma tolerância descabida por parte de algumas autoridades, embora preocupem a Nação. Em vista disso, penso que vale a pena recordar a posição da Igreja diante desses fatos.
Ao menos por três vezes, o Papa João Paulo II se manifestou de maneira muito clara de que a Igreja é totalmente contra a invasão de propriedades alheias. Em março de 1996, o Papa de saudosa memória disse ao segundo grupo de Bispos do Brasil, provenientes do Regional Sul l da CNBB: “… recordo, igualmente, as palavras do meu predecessor Leão XIII quando ensina que ‘nem a justiça, nem o bem comum consentem danificar alguém ou invadir a sua propriedade sob nenhum pretexto’ (Rerum Novarum, 55).
A Igreja não pode estimular, inspirar ou apoiar as iniciativas ou movimentos de ocupação de terras, quer por invasões pelo uso da força, quer pela penetração sorrateira das propriedades agrícolas.”
Com uma clareza absoluta, o Papa deixa claro que nada justifica “danificar alguém ou invadir a sua propriedade”. E que a Igreja jamais pode alimentar esse tipo de desordem. No entanto, sabemos que há elementos da Igreja, membros do clero, que são mentores e incentivadores das invasões de terra, prédios etc. Não há como justificar esse tipo de atitude.
Em novembro de 2002, o Papa voltou a dizer aos bispos do Brasil: “Para alcançar a justiça social se requer muito mais do que a simples aplicação de esquemas ideológicos originados pela luta de classes como, por exemplo, através da invasão de terras – já reprovada na minha viagem pastoral em 1991 – e de edifícios públicos e privados, ou por não citar outros, a adoção de medidas técnicas extremas, que podem ter conseqüências bem mais graves do que a injustiça que pretendiam resolver.”
Novamente, o Papa deixou claro que a necessária justiça social deve ser obtida pelas ações legais e não por “aplicação de esquemas ideológicos originados pela luta de classes”. Condenou explicitamente as “invasões de terra”. O Papa lembrou que essas ações desordeiras pioram os problemas referentes à justiça social ao invés de encontrar solução. A história recente da Rússia e dos países da antiga Cortina de Ferro mostra sobejamente essa verdade.
A Igreja é plenamente a favor da justiça social e quer que justiça seja feita dentro da lei e da ordem como propõe na sua Doutrina Social. Mas, sem lançar mão de violência, luta de classes ou incitamento do ódio de uns contra os outros. Isso não é um meio moral e cristão. Não se pode fazer o bem por um caminho ruim.
*Teólogo e apresentador dos programas Escola da Fé e Trocando idéias, na TV Canção Nova (http://www.cancaonova.com/)

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