quinta-feira, 29 de maio de 2008

As razões do coração de Maria

Prof. Felipe Aquino*

Maio é um mês totalmente dedicado a Maria, mãe de Jesus. Não sem motivo, é o mês das noivas, em que se destaca a figura da mãe – base de toda família.

No próximo dia 31 (sábado), é celebrado o Imaculado Coração de Maria, símbolo máximo do amor materno. O Papa Bento XVI, quando ainda era Prefeito da Congregação da Fé, apresentou seis motivos para não esquecermos a Virgem Maria.

Segundo ele, são os pontos em que a função da Virgem Maria, de equilíbrio e totalidade, se mostra clara para a fé católica.

Primeiro
Reconhecer a Maria o lugar que a tradição e o dogma lhe atribuem significa permanecer profundamente radicados na cristologia original. Foi ao serviço direto da fé em Cristo, e não, portanto, em primeiro lugar por devoção à Mãe, que a Igreja proclamou os seus dogmas marianos: inicialmente, a virgindade perpétua e a maternidade divina e, a seguir, após um longo amadurecimento e reflexão, a conceição sem mácula do pecado original e a assunção ao céu. Esses dogmas servem de amparo à fé autêntica em Cristo, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem: duas naturezas em uma só Pessoa.

Segundo
A mariologia da Igreja supõe o justo relacionamento e a necessária integração entre Bíblia e Tradição. Os quatro dogmas marianos têm claro fundamento na Escritura. Trata-se de um gérmen que cresce e frutifica na vida cálida da tradição, assim como se exprime na liturgia, no sentimento do povo fiel e na reflexão da teologia guiada pelo Magistério.

Terceiro
Precisamente em sua pessoa de jovem hebréia feita Mãe do Messias, Maria une de modo vital e inseparável o antigo e o novo povo de Deus, Israel e o Cristianismo, Sinagoga e Igreja. Ela é o traço de união sem o qual a fé, como acontece hoje, corre o risco de perder o equilíbrio, fazendo com que nós recolhamos o Novo Testamento no Antigo, ou que nos desfaçamos do Antigo. Nela, no entanto, podemos viver a síntese da Escritura inteira.

Quarto
A correta devoção mariana assegura à fé a convivência da indispensável “razão” com as igualmente indispensáveis “razões de coração”. Para a Igreja, o homem não é apenas nem somente sentimento, nem só razão. Ele é a união dessas duas dimensões. A cabeça deve refletir com lucidez, mas o coração deve poder ser aquecido: a devoção a Maria “livre de qualquer falso exagero, mas também isenta de uma estreiteza de mente que não considere a singular dignidade da Mãe de Deus”, como recomenda o Concílio, assegura à fé a sua dimensão humana completa.

Quinto
Para usar exatamente as expressões do Vaticano II, Maria é “figura”, “imagem” e “modelo” da Igreja. Assim, olhando para Ela, a Igreja defende-se daquele modelo machista de que falava antes e que a vê como instrumento de um programa de ação sociopolítica. Em Maria, sua figura e modelo, a Igreja reencontra o seu rosto de Mãe, e não pode degenerar em uma involução que a transforme em partido, numa organização, num grupo de pressão ao serviço de interesses humanos, ainda que nobilíssimos. Se em certas teologias Maria não encontra mais lugar, a razão é simples: elas reduziram a fé a uma abstração. E abstração não tem necessidade de Mãe.

Sexto
Como seu destino, que é ao mesmo tempo de Virgem e Mãe, Maria projeta continuamente luz sobre aquilo que o Criador quis para a mulher de todos os tempos, inclusive o nosso. A Sua Virgindade e a Sua Maternidade enraízam o mistério da mulher num destino altíssimo, do qual Ela não pode ser deslocada. Maria é aquela que torna fecundo o silêncio. É aquela que não teme ficar ao pé da cruz, que, como realça várias vezes o evangelista, “conserva e medita em Seu Coração” o que acontece ao seu redor. Criatura da coragem e da obediência, Maria é e sempre será um exemplo para o qual todo o cristão, homem e mulher, pode e deve olhar.

* Teólogo e apresentador dos programas Escola da Fé e Trocando idéias, na TV Canção Nova (http://www.cancaonova.com/)

Ex-Libris Comunicação Integrada
Luiz Pattoli
Heloísa Paiva

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