quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Paraná usa microcrédito contra pobreza


Programa prevê oferecer R$ 160 milhões para pequenos negócios em 127 municípios da região central, selecionados de acordo com o IDH - Foto: stock.xchng/Ana Labate

Curitiba, 07/02/2008


RAFAEL SAMPAIO

da PrimaPagina


Para estimular pequenos empreendedores de 127 localidades do centro do Paraná, a maioria com IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) inferior ao do Estado, o governo paranaense planeja investir R$ 160 milhões em microcrédito na região até 2010. A estimativa é que mais de 1,86 milhão de pessoas sejam beneficiadas direta ou indiretamente pelos empréstimos, que podem variar de R$ 300 a R$ 10 mil e terão juros de 0,95% ao mês. O crédito começa a ser concedido ainda neste mês pelo Banco Social, principalmente para pequenos empresários e agricultores.
A estratégia faz parte do que o secretário estadual do Trabalho, Nelson Garcia, chama de “reformulação” do Banco Social. Até o ano passado, a instituição oferecia crédito para todo o Paraná, mas, segundo Garcia, não conseguia frear a pobreza e a desigualdade no centro do Estado. Reformado, o banco ganha novo foco e passa a oferecer empréstimos sobretudo a cidades com IDH-M menor que o paranaense (0,787 no ano 2000, semelhante ao IDH da Ucrânia), como Ortigueira, município que tem o pior índice do Estado (0,620, menor que o de Guiné Equatorial, na África).
A escolha dos 127 municípios, portanto, envolveu tanto o aspecto geográfico (foi dada ênfase à região central) quanto o IDH-M (uma adaptação do IDH aos indicadores regionais brasileiros, feita pelo PNUD e órgãos públicos do país). Ainda assim, duas cidades entre as selecionadas têm IDH-M maior que o do Paraná: Apucarana (0,799) e União da Vitória (0,793). De acordo com a Secretaria do Trabalho, responsável pelo Banco Social, 60 dos 127 municípios escolhidos têm pelo menos 40% da população abaixo da linha da pobreza.
A divulgação das linhas de crédito, o cadastramento de empresários e agricultores que pretendem obter o financiamento, o encaminhamento do pedido ao Banco Social e o acompanhamento dos empreendimentos serão feitos por 90 agentes, chamados pelo governo paranaense de agentes do desenvolvimento. “Cada pedido será enviado para a agência de fomento do governo paranaense, que avalia os documentos dos empreendedores e sua condição financeira”, diz o coordenador de Geração de Renda da secretaria do Trabalho, Adilson Stuzata. O empréstimo, segundo ele, deve ser liberado poucas semanas após a aprovação do cadastro.
Os primeiros 48 agentes passaram por treinamento em janeiro. Segundo Stuzata, a cada seis meses será feita uma avaliação do trabalho no Banco Social, para corrigir eventuais erros.
Aos que pretendem iniciar um pequeno negócio, o Banco Social pode liberar, depois da análise do cadastro, crédito de R$ 300 a R$ 2 mil. Empresas com seis meses de vida têm limite de R$ 5 mil de crédito, e as já consolidadas podem pedir até R$ 10 mil. Todas as linhas de crédito têm carência de três meses para iniciar o pagamento.
Café da tia Tita
Conselheiro Mairinck, um município de 3.554 habitantes na região central do Paraná, abriga um exemplo de como o crédito do Banco Social pode resultar em um bom negócio. Um casal de idosos, Maria (conhecida como tia Tita) e Roque de Siqueira, que antes vivia sobretudo do dinheiro da aposentadoria, obteve empréstimo para comprar equipamentos para fazer café torrado e moído. Hoje, eles produzem de 450 a 480 quilos de café mensalmente, segundo o agente Silvio Maximino. “Se você vier em um restaurante de Conselheiro Mairinck e pedir um cafezinho, provavelmente será da tia Tita”, afirma.

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